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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Um dos nossos projetos em 2min

   Ano passado, nosso grupo de pesquisa teve a honra de participar como pano de fundo do projeto Geração Futura Universidades Parceiras. Trata-se de uma iniciativa do Canal Futura para estudantes da área da comunicação. O Roger Gritti, estudante de Jornalismo da UPF, foi selecionado para representar a nossa Universidade e ganhou a chance de participar de diversas oficinas de audiovisual na sede do Canal Futura. Como tarefa, ele precisou desenvolver um vídeo, desde o processo de roteiro até a finalização, e o tema deste vídeo foi um projeto de pesquisa desenvolvido na nossa Universidade.

  Então o Roger me procurou pois o projeto em questão tem bastante elementos visuais que ele poderia aproveitar (equipamentos, modelo animal, etc...). Gravamos o vídeo e o resultado do trabalho do Roger pode ser conferido nos intervalos da programação do Futura, ou logo abaixo. Além desta experiência muito legal, eu também "lucrei" com um videozinho super bem produzido que fala um pouco sobre o nosso trabalho.


 Sou muito suspeita pois eu acho que envolver-se em projetos de pesquisa é parte fundamental de uma experiência universitária completa. E aqui na UPF nós temos muito espaço para produzir conhecimento. Por isso, você, aluno que me lê, experimente a Iniciação Científica, pois isso pode abrir muitas portas!

  Quanto aos resultados deste projeto, em breve eles aparecem por aqui, pois estamos em fase de finalização dos artigos.

  Parabéns Roger pelo trabalho! E também às minhas bolsistas Jéssica e Patrícia, que tocaram este projeto de pesquisa, pois vocês são as verdadeiras protagonistas do vídeo.


segunda-feira, 25 de maio de 2015

A contaminação ambiental por resíduos de medicamentos: isso é problema seu!

   No último sábado, eu, o professor Luciano e a professora Charise estivemos no programa Uirapuru Ecologia, na rádio Uirapuru para falar sobre a problemática da contaminação ambiental por resíduos de medicamentos.


   O descarte incorreto de medicamentos (vencidos ou aqueles em desuso) contamina os efluentes e o ecossistema e já há estudos associando esta contaminação com efeitos deletérios nos animais e até mesmo ao homem. Esses resíduos de medicamentos e até mesmo protetores solares são definidos como "contaminantes emergentes", pois o seu potencial de causar dano já é conhecido. Além do descarte incorreto, a contaminação por medicamentos acontece porque uma parte dos medicamentos que tomamos é eliminada na forma inalterada ou como metabólitos (muitas vezes ativos) pela urina. Apesar destes resíduos estarem presentes em quantidades muito baixas, vale lembrar que esta contaminação acontece de maneira contínua. São 7 bilhões de pessoas excretando resíduos de medicamentos que contaminam o ambiente, além daquelas que descartam os medicamentos de forma incorreta.
  
   Sabe-se que 1kg de medicamentos descartados de forma incorreta podem contaminar até 450 mil L de água. E o nosso padrão de potabilidade de água ignora esta contaminação de medicamentos, ou seja, não são considerados testes para verificar esta situação e nem existe na legislação algum limite ou tratamento da água visando minimizar esta contaminação. Por isso, não é novidade que a água que você toma contém resíduos de medicamentos. Portanto, isso também é problema seu! 

    Aos cientistas, cabe fornecer uma alternativa para tratar nossos efluentes e minimizar esta contaminação (aqui tem um exemplo de alternativa que vem dando certo). E você, o que pode fazer?

    Ouça aqui o áudio do programa Uirapuru Ecologia onde discutimos estas questões, as suas consequências, possíveis alternativas e o que você pode fazer para garantir a estabilidade do seu medicamento e o seu descarte correto.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Purificadores de ar a base de ozônio: eficácia e segurança

   O ozônio é um composto que apresenta a ambiguidade de ser considerado vilão ou mocinho em determinadas condições. Ao mesmo tempo que são feitas campanhas para preservar a camada de ozônio, este composto também pode ser considerado um poluente (é tratado como tal pela nossa legislação do CONAMA, Resolução 003/90). E apesar de ser um poluente, alguns "purificadores de ar" realizam a sua função através de geração de ozônio. 
   Soou estranho purificar o ar com um poluente? Para muita gente também! Então hoje vamos falar sobre um projeto que tive o prazer de participar, que foi coordenado pela Prof. Charise Bertol, onde se testou a eficácia e a segurança destes purificadores de ar.

  Primeiramente, algumas definições:
 O ozônio é um gás  colorido, em tons de azul, composto por 3 moléculas de oxigênio. Ele se forma quando as moléculas do oxigênio (O2) se rompem pela ação da radiação ultravioleta do sol. Os átomos separados podem se combinar novamente com outras moléculas, gerando o ozônio (O3).
   A atmosfera tem várias camadas, conforme demonstrado na figura abaixo. A camada de ozônio fica localizada na estratosfera, em uma altitude de 16 a 30km. Esta camada serve para absorver as radiações ultravioletas que vem do sol.


Camadas da atmosfera. Fonte: http://www.mundoeducacao.com/quimica/equilibrio-quimico-na-camada-ozonio.htm


Camada de ozônio na estratosfera, que atua como um escudo para as radiações ultravioletas do sol. Fonte: http://www.ibflorestas.org.br/noticias/584-16-de-setembro-dia-internacional-de-protecao-da-camada-de-ozonio.html

   Já na troposfera, que é a camada mais próxima da superfície da Terra, o ozônio é considerado um poluente secundário. Ou seja, é formado a partir de outros poluentes atmosféricos, como o dióxido de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis na presença de radiação solar. O ozônio da troposfera contribui para o agravamento de crises de asma, bronquites e doenças respiratórias no geral. 
   Existem no mercado "purificadores de ar geradores de ozônio". São equipamentos pequenos, portáteis (como o da figura abaixo) e que prometem melhorar a qualidade do ar.


Exemplo de purificador de ar gerador de ozônio.

   O fundamento da utilização do ozônio como purificador de ar se deve ao seu efeito oxidante. Os fabricantes informam que estes purificadores produzem íons que removeriam micro-organismos do ar. O mecanismo desta ação se fundamenta no ataque do ozônio às membranas e paredes celulares, sendo capaz de causar uma situação de stress oxidativo e consequentemente, o rompimento das células dos patógenos. Porém, alguns autores questionam esta atividade. Esta corrente defende que, em concentrações seguras para os seres humanos o ozônio seria ineficaz como descontaminante ou purificador de ar. Em concentrações acima das permitidas, a eventual purificação atingida não se justificaria porque os efeitos negativos do ozônio para a saúde seriam mais prejudiciais do que o benefício conseguido.
  
  Então, primeiramente, vamos aos nossos resultados relativos à eficácia destes purificadores de ar. Posteriormente, voltaremos à questão da segurança:

   Nós testamos o efeito de um purificador de ar (marca Brizzamar) comparando os micro-organismos cultivados em presença do purificador e na ausência do mesmo. Os resultados mostraram que após 1 h de uso do purificador de ar gerador de ozônio, houve uma redução significativa dos fungos presentes no ambiente (72.22%). Após 2 e 3 h de funcionamento do purificador, a redução atingiu 83.43%  e 89.71%, respectivamente. Com relação às bactérias presentes no ar, observou-se uma redução de 34.75% após a primeira hora de funcionamento do equipamento, 74.82% após 2 h e 78.02% após 3 h. O modelo experimental utilizando dois diferentes vírus (BoHV-1 - vírus da herpes bovina e HSV-1 Herpes simplex virus) evidenciou que após 3 h de exposição ao ozônio houve uma redução acima de 90% nos dois vírus utilizados. E nestas condições, a eliminação dos vírus aconteceu sem efeitos citotóxicos para a célula hospedeira. 

Conclusão: Houve uma melhora na qualidade microbiológica do ar após a exposição ao purificador de ar gerador de ozônio. Os melhores resultados foram obtidos após 3 h de funcionamento, conforme recomendado pelos fabricantes.

 E a segurança do uso?

  Como o ozônio é um poluente oxidante, existem níveis considerados seguros de exposição. No ambiente de trabalho, por exemplo, a OSHA (Occupational Safety and Health Administration)  recomenda um limite de 0.1 ppm de ozônio para uma jornada de trabalho de 8 h. No Brasil, o Ministério do Trabalho, através da NR 15, fixou em 0.08 ppm de ozônio como o limite máximo de exposição em regime de até 48 h semanais.
    Nos nossos estudos, a concentração do ozônio no ambiente foi medida e sempre ficou abaixo de 0.05 ppm, o que sugere a segurança do purificador. Este dado é importante porque depõe contra o possível efeito cumulativo do ozônio. Então, para confirmar este achado, colocamos o purificador gerador de ozônio em uma caixa até que ela se encontrasse saturada de ozônio (concentração de ozônio após saturação da caixa = 3.7 ppm). Cinco minutos após desligar o equipamento, os níveis de ozônio reduziram drasticamente (50%) e após 30 min, a concentração de ozônio na caixa era inferior a 5%. 

   Ainda assim, realizamos ensaios in vivo para verificar os possíveis efeitos agudos e crônicos do ozônio, especialmente no trato respiratório. Para isso, ratos foram expostos por 15 dias a uma exposição ao purificador de ar ligado por 3 h/dia (conforme recomenda o fabricante) ou 24 h/dia (uma situação extrema). Outro grupo foi exposto por 28 dias à exposição ao purificador de ar ligado por 3 h/dia ou 24 h/dia. Os resultados foram comparados com animais mantidos sem qualquer exposição ao gerador de ozônio (controles). Os parâmetros avaliados foram a massa relativa dos órgãos, alterações macro e microscópicas dos órgãos, parâmetros hematológicos e marcadores de stress oxidativo sistêmico, além de ensaios de mutagenicidade. 
      Não houve alterações significativas nos animais expostos ao ozônio em nenhuma condição quando comparado aos animais controles.

Conclusão: Neste modelo de exposição, o purificador de ar gerador de ozônio pode ser considerado seguro.

    Se você quiser saber mais sobre estes estudos, aqui você encontra o artigo do trabalho com fungos e bactérias e aqui você encontra o trabalho com os vírus. Os ensaios de avaliação da qualidade microbiológica do ar foram realizados como Trabalho de Conclusão de Curso das alunas Greicy Petry, Karoline Vieira e Angelica Vilani, orientadas pela Prof. Charise Bertol. A avaliação da toxicidade foi realizada pela aluna Larissa Cestonaro e encontram-se submetidos para a publicação. Estes trabalhos foram desenvolvidos no âmbito do projeto Sentinela - UPF Tec.



quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

É possível que o estilo de vida moderno esteja deixando a nossa vida sem sentido??

  Biologicamente falando, o sentido da vida é a reprodução (Teoria do Gene Imortal, defendida por Richard Dawkins, que nada mais é do que uma reinterpretação da teoria da evolução de Darwin, um tema que também gosto muito). Logo, o título deste post pode ser entendido como: "É possível que o estilo de vida moderno esteja ameaçando o sentido da vida, ou seja, a reprodução?". Explico:

  Se comparássemos a contagem e a qualidade de espermatozoides de um homem de 50 anos com a de um homem de 20 anos, qual delas você esperaria que fosse superior? Considere que, aos 20 anos, o homem encontra-se no auge de sua juventude e que o sucesso da espécie depende da sua capacidade de transmitir os seus genes para descendentes. Lembre-se também que houve um tempo em que a expectativa de vida dos humanos era inferior aos 40 anos...
  
  


Representação de uma contagem de espermatozoides normal e diminuída. Além dos aspectos quantitativos, é preciso avaliar a qualidade dos espermatozoides. Eles devem ter o formato representado à direita, sinalizado em azul. Podem ser observados vários defeitos nos espermatozoides, conforme representado acima.

  Exato. O esperado era que o homem de 20 anos apresentasse uma contagem de espermatozoides superior em quantidade e qualidade quando comparado a um homem de 40 anos. Porém, em 1996, o documentário Assault on the Male (Agressão ao homem), produzido pela BBC e disponível no final deste post, revelou uma inversão na lógica biológica. 
  Homens que nasceram na década de 50, e portanto viveram a sua juventude nos anos 70, apresentavam contagem de espermatozoides de 150 milhões/ml. Já os homens que nasceram na década de 70 e viveram a sua juventude nos anos 90 apresentavam uma contagem média de cerca de 75 milhões/ml. Isso é um declínio brutal!!
 Mas por que? Quais alterações foram introduzidas no nosso estilo de vida que poderiam estar relacionadas com estas alterações?



Uma dica: uso indiscriminado de plástico, agrotóxicos, produtos químicos...


  Existem vários compostos que podem ser considerados disruptores ou desreguladores endócrinos. Estas substâncias interferem com a sinalização hormonal. São compostos presentes no plástico, em agrotóxicos, produtos químicos como detergentes, etc... Apesar da sua composição química diversa, eles tem uma coisa em comum: estão amplamente distribuídos no nosso cotidiano! Um exemplo é o bisfenol A (BPA) (voltaremos a falar nele neste blog). O BPA é um componente do plástico. Devido a sua reconhecida atividade estrogênica, surgiram os produtos BPA-free. Em 2011, no Brasil, a presença de BPA em mamadeiras foi proibida (RDC 41 de 16 de setembro de 2011).



Produtos BPA-free. Resolveu?? Aparentemente não! Mas isto é assunto para outro post!


  O mais assustador é que os cientistas do documentário previram que, se nada fosse feito, os meninos nascidos nos anos 90 apresentariam contagens espermáticas de cerca de 50 milhões/ml. Esta previsão assusta pois abaixo de 20 milhões/ml há prejuízos significativos para a fertilidade.
  Bom, mas o documentário foi gravado em 1996 e já se passaram quase 20 anos. Já temos condições de avaliar se conseguimos alterar essa triste previsão ou não, certo? 
  Nos últimos anos, o decréscimo na contagem e qualidade dos espermatozoides fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) padronizasse novos valores de referência para o espermograma (nome do exame que avalia a qualidade dos espermatozoides). Compare os valores que eram considerados normais nos anos 80 com os valores de normalidade em 2010 e tire as suas próprias conclusões.


Valores de referência em diferentes épocas para diferentes parâmetros do espermograma. Os valores seguidos por um asterisco significam que os critérios de avaliação para este parâmetro foram alterados e portanto a comparação direta entre os anos não é possível.

  Uma ressalva a ser feita quando se analisa estes dados é que o controle de qualidade das análises evoluíram e estudos com maior número de participantes foram considerados. Por isso, os valores podem ter sido corrigidos  e antigamente alguns homens podem ter sido diagnosticados como sub- ou inférteis sem sê-lo. Como em tudo na vida, os disruptores endócrinos tem apoiadores e críticos na comunidade científica. Mais sobre estes aspectos no artigo recomendado abaixo.
  Contudo, esta discussão é válida e termino este post ressaltando que não podemos surtar, mas temos que minimizar os estragos. Substituir os produtos com embalagem plástica ajuda, mas não nos isenta. Conforme discutido no documentário, ao substituir o plástico por vidro, se o vidro tiver sido lavado com detergentes com efeito estrogênico, não estaremos livre dos disruptores endócrinos. E aí? Te convido a pensar em alternativas! Pois embora os efeitos desta contaminação possam ser sentidas por todas as espécies, a solução deverá partir da espécie racional.

  Assista ao documentário abaixo. São 36 minutos que eu espero que mudem a tua vida! Ou, que pelo menos te façam pensar...




Para saber mais:

Esteves SC, Zini A, Aziz N, Alvarez JG, Sabanegh ES Jr, Agarwal A. Critical appraisal of World Health Organization's new reference values for human semen  characteristics and effect on diagnosis and treatment of subfertile men. Urology, 79:1, 16-22, 2012.