quarta-feira, 27 de maio de 2015

Monitorização terapêutica de medicamentos

   No dia 28 de maio, o Grupo de Pesquisa em Infecções Hospitalares da Faculdade de Medicina da UPF, com o apoio da Liga de Infectologia da UPF promoverá a palestra: Monitorização sérica de antimicrobianos: como garantir o sucesso terapêutico no tratamento das infecções graves no ambiente hospitalar (maiores informações no folder abaixo). 


    Esta palestra será ministrada pela farmacêutica Siomara Hahn, que é também professora da UPF e neste momento realiza projetos de pesquisa nesta temática na Universidade do Porto, Portugal. 
      
     Este é um assunto muito relevante nas ciências farmacêuticas, e por isso, pedi para a aluna do Curso de Farmácia, Ana Paula Anzolin Sordi, que participa da liga de infectologia e desenvolve trabalhos com a orientação da Prof. Cristiane Barelli, para falar um pouco sobre o assunto.

   Inicialmente, a Ana Paula trouxe dados muito importantes e preocupantes: O Instituto Americano de Medicina publicou um estudo em 2000 onde mostrou que os erros de medicamentos causaram 7391 mortes por ano de americanos nos hospitais e mais de 10.000 mortes em institutos ambulatoriais. Destes inúmeros erros, aproximadamente 50% tem relação com à falta de informação sobre a dose correta. Todos esses erros aumentam muito o custo de cada paciente para os hospitais. Em 1997 os EUA tiveram um custo de 76,6 bilhões de dólares referente a morbidade e mortalidade em unidades de ambulatório relacionadas aos medicamentos sendo que 60% destes custos poderiam ter sido evitados, pois cada evento adverso a medicação, aumenta a internação de pacientes em 3,23 dias e o custo em $ 4,655 dólares.

    E é aí que entra a monitorização terapêutica, que seria a dosagem das concentrações que o medicamento atingiu no sangue de cada pessoa para ajuste da dosagem. A Ana Paula explica:

   Ao prescrever uma droga terapêutica a um paciente, o médico leva em conta as doses e os intervalos que os medicamentos devem ser administrados para que possam ter o resultado desejado. Entretanto, diversos fatores (do paciente e do fármaco) podem interferir na resposta terapêutica, por isso é necessário e tão importante a sua monitorização, pois a mesma avalia a posologia do fármaco no organismo, para ter melhores efeitos terapêuticos e evitar a ocorrência de efeitos adversos ou, no caso dos antibióticos, resistência bacteriana por ter uma sub-dose. É a monitorização que vai dizer se a dose esta alta, baixa ou ideal. Se estiver ideal o tratamento continua com a dose que iniciou, se estiver alta ou baixa será feito um ajuste de dose para atingir a janela terapêutica, ou seja, uma faixa de concentração onde o medicamento é eficaz, que tem efeito clínico e que não seja tóxico. 

Portanto a monitorização terapêutica é imprescindível para o sucesso do tratamento, para promover a segurança do paciente e para uma economia financeira dos hospitais.

Obrigada Ana Paula por atender prontamente a minha solicitação e participar deste post! :)


segunda-feira, 25 de maio de 2015

A contaminação ambiental por resíduos de medicamentos: isso é problema seu!

   No último sábado, eu, o professor Luciano e a professora Charise estivemos no programa Uirapuru Ecologia, na rádio Uirapuru para falar sobre a problemática da contaminação ambiental por resíduos de medicamentos.


   O descarte incorreto de medicamentos (vencidos ou aqueles em desuso) contamina os efluentes e o ecossistema e já há estudos associando esta contaminação com efeitos deletérios nos animais e até mesmo ao homem. Esses resíduos de medicamentos e até mesmo protetores solares são definidos como "contaminantes emergentes", pois o seu potencial de causar dano já é conhecido. Além do descarte incorreto, a contaminação por medicamentos acontece porque uma parte dos medicamentos que tomamos é eliminada na forma inalterada ou como metabólitos (muitas vezes ativos) pela urina. Apesar destes resíduos estarem presentes em quantidades muito baixas, vale lembrar que esta contaminação acontece de maneira contínua. São 7 bilhões de pessoas excretando resíduos de medicamentos que contaminam o ambiente, além daquelas que descartam os medicamentos de forma incorreta.
  
   Sabe-se que 1kg de medicamentos descartados de forma incorreta podem contaminar até 450 mil L de água. E o nosso padrão de potabilidade de água ignora esta contaminação de medicamentos, ou seja, não são considerados testes para verificar esta situação e nem existe na legislação algum limite ou tratamento da água visando minimizar esta contaminação. Por isso, não é novidade que a água que você toma contém resíduos de medicamentos. Portanto, isso também é problema seu! 

    Aos cientistas, cabe fornecer uma alternativa para tratar nossos efluentes e minimizar esta contaminação (aqui tem um exemplo de alternativa que vem dando certo). E você, o que pode fazer?

    Ouça aqui o áudio do programa Uirapuru Ecologia onde discutimos estas questões, as suas consequências, possíveis alternativas e o que você pode fazer para garantir a estabilidade do seu medicamento e o seu descarte correto.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Purificadores de ar a base de ozônio: eficácia e segurança

   O ozônio é um composto que apresenta a ambiguidade de ser considerado vilão ou mocinho em determinadas condições. Ao mesmo tempo que são feitas campanhas para preservar a camada de ozônio, este composto também pode ser considerado um poluente (é tratado como tal pela nossa legislação do CONAMA, Resolução 003/90). E apesar de ser um poluente, alguns "purificadores de ar" realizam a sua função através de geração de ozônio. 
   Soou estranho purificar o ar com um poluente? Para muita gente também! Então hoje vamos falar sobre um projeto que tive o prazer de participar, que foi coordenado pela Prof. Charise Bertol, onde se testou a eficácia e a segurança destes purificadores de ar.

  Primeiramente, algumas definições:
 O ozônio é um gás  colorido, em tons de azul, composto por 3 moléculas de oxigênio. Ele se forma quando as moléculas do oxigênio (O2) se rompem pela ação da radiação ultravioleta do sol. Os átomos separados podem se combinar novamente com outras moléculas, gerando o ozônio (O3).
   A atmosfera tem várias camadas, conforme demonstrado na figura abaixo. A camada de ozônio fica localizada na estratosfera, em uma altitude de 16 a 30km. Esta camada serve para absorver as radiações ultravioletas que vem do sol.


Camadas da atmosfera. Fonte: http://www.mundoeducacao.com/quimica/equilibrio-quimico-na-camada-ozonio.htm


Camada de ozônio na estratosfera, que atua como um escudo para as radiações ultravioletas do sol. Fonte: http://www.ibflorestas.org.br/noticias/584-16-de-setembro-dia-internacional-de-protecao-da-camada-de-ozonio.html

   Já na troposfera, que é a camada mais próxima da superfície da Terra, o ozônio é considerado um poluente secundário. Ou seja, é formado a partir de outros poluentes atmosféricos, como o dióxido de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis na presença de radiação solar. O ozônio da troposfera contribui para o agravamento de crises de asma, bronquites e doenças respiratórias no geral. 
   Existem no mercado "purificadores de ar geradores de ozônio". São equipamentos pequenos, portáteis (como o da figura abaixo) e que prometem melhorar a qualidade do ar.


Exemplo de purificador de ar gerador de ozônio.

   O fundamento da utilização do ozônio como purificador de ar se deve ao seu efeito oxidante. Os fabricantes informam que estes purificadores produzem íons que removeriam micro-organismos do ar. O mecanismo desta ação se fundamenta no ataque do ozônio às membranas e paredes celulares, sendo capaz de causar uma situação de stress oxidativo e consequentemente, o rompimento das células dos patógenos. Porém, alguns autores questionam esta atividade. Esta corrente defende que, em concentrações seguras para os seres humanos o ozônio seria ineficaz como descontaminante ou purificador de ar. Em concentrações acima das permitidas, a eventual purificação atingida não se justificaria porque os efeitos negativos do ozônio para a saúde seriam mais prejudiciais do que o benefício conseguido.
  
  Então, primeiramente, vamos aos nossos resultados relativos à eficácia destes purificadores de ar. Posteriormente, voltaremos à questão da segurança:

   Nós testamos o efeito de um purificador de ar (marca Brizzamar) comparando os micro-organismos cultivados em presença do purificador e na ausência do mesmo. Os resultados mostraram que após 1 h de uso do purificador de ar gerador de ozônio, houve uma redução significativa dos fungos presentes no ambiente (72.22%). Após 2 e 3 h de funcionamento do purificador, a redução atingiu 83.43%  e 89.71%, respectivamente. Com relação às bactérias presentes no ar, observou-se uma redução de 34.75% após a primeira hora de funcionamento do equipamento, 74.82% após 2 h e 78.02% após 3 h. O modelo experimental utilizando dois diferentes vírus (BoHV-1 - vírus da herpes bovina e HSV-1 Herpes simplex virus) evidenciou que após 3 h de exposição ao ozônio houve uma redução acima de 90% nos dois vírus utilizados. E nestas condições, a eliminação dos vírus aconteceu sem efeitos citotóxicos para a célula hospedeira. 

Conclusão: Houve uma melhora na qualidade microbiológica do ar após a exposição ao purificador de ar gerador de ozônio. Os melhores resultados foram obtidos após 3 h de funcionamento, conforme recomendado pelos fabricantes.

 E a segurança do uso?

  Como o ozônio é um poluente oxidante, existem níveis considerados seguros de exposição. No ambiente de trabalho, por exemplo, a OSHA (Occupational Safety and Health Administration)  recomenda um limite de 0.1 ppm de ozônio para uma jornada de trabalho de 8 h. No Brasil, o Ministério do Trabalho, através da NR 15, fixou em 0.08 ppm de ozônio como o limite máximo de exposição em regime de até 48 h semanais.
    Nos nossos estudos, a concentração do ozônio no ambiente foi medida e sempre ficou abaixo de 0.05 ppm, o que sugere a segurança do purificador. Este dado é importante porque depõe contra o possível efeito cumulativo do ozônio. Então, para confirmar este achado, colocamos o purificador gerador de ozônio em uma caixa até que ela se encontrasse saturada de ozônio (concentração de ozônio após saturação da caixa = 3.7 ppm). Cinco minutos após desligar o equipamento, os níveis de ozônio reduziram drasticamente (50%) e após 30 min, a concentração de ozônio na caixa era inferior a 5%. 

   Ainda assim, realizamos ensaios in vivo para verificar os possíveis efeitos agudos e crônicos do ozônio, especialmente no trato respiratório. Para isso, ratos foram expostos por 15 dias a uma exposição ao purificador de ar ligado por 3 h/dia (conforme recomenda o fabricante) ou 24 h/dia (uma situação extrema). Outro grupo foi exposto por 28 dias à exposição ao purificador de ar ligado por 3 h/dia ou 24 h/dia. Os resultados foram comparados com animais mantidos sem qualquer exposição ao gerador de ozônio (controles). Os parâmetros avaliados foram a massa relativa dos órgãos, alterações macro e microscópicas dos órgãos, parâmetros hematológicos e marcadores de stress oxidativo sistêmico, além de ensaios de mutagenicidade. 
      Não houve alterações significativas nos animais expostos ao ozônio em nenhuma condição quando comparado aos animais controles.

Conclusão: Neste modelo de exposição, o purificador de ar gerador de ozônio pode ser considerado seguro.

    Se você quiser saber mais sobre estes estudos, aqui você encontra o artigo do trabalho com fungos e bactérias e aqui você encontra o trabalho com os vírus. Os ensaios de avaliação da qualidade microbiológica do ar foram realizados como Trabalho de Conclusão de Curso das alunas Greicy Petry, Karoline Vieira e Angelica Vilani, orientadas pela Prof. Charise Bertol. A avaliação da toxicidade foi realizada pela aluna Larissa Cestonaro e encontram-se submetidos para a publicação. Estes trabalhos foram desenvolvidos no âmbito do projeto Sentinela - UPF Tec.