quinta-feira, 11 de junho de 2015

Amor, uma questão de química

Em homenagem ao dia dos namorados, o assunto de hoje no blog é o amor!



O que faz com que o seu coração acelere na presença de alguém especial? O frio na barriga, mãos suando, respiração alterada, bochechas coradas, olhar perdido e aquele contentamento com uma simples mensagem são manifestações biológicas da paixão. E por trás deste quadro, há a química governando tudo. É a química que faz com que você sinta isso tudo por algumas pessoas e por outras não. Afinal, quando "não rola", muitas vezes assumimos que "não houve química", certo?

Logo, o amor é o resultado das reações químicas que ocorrem no nosso cérebro e o amor tem uma função biológica importantíssima: garantir a propagação da espécie. Sabe-se que, embora seja muito melhor quando andem juntos, o sexo e o amor nem sempre coexistem. E por isso você pode questionar a minha afirmação pois o que de fato garante a propagação da espécie é o sexo. Porém, evolutivamente, existe uma teoria de que em uma relação estável, as chances de criarmos com sucesso os nossos descendentes são muito maiores. Embora a estratégia monogâmica seja menos empregada pela maioria dos animais, os animais que optam por esta estratégia o fazem pois gastam muita energia fornecendo um ambiente para a criação da prole (construção do ninho, prover alimentos, etc... e é uma economia de energia investir tudo isso em uma única família do que em várias). Também há vários evolucionistas que defendem que a poligamia é a mais natural e inteligente das estratégias porque tem a vantagem de permitir um maior acesso a genes diferentes, produzindo indivíduos com maior variabilidade. Porém, como há redução da energia gasta nos cuidados com a prole, na natureza está associada a uma maior mortalidade infantil e os indivíduos que tem mais sucesso com esta estratégia são pertencentes de espécies menos dependentes de cuidados paternos. Mas enfim, como o assunto de hoje é mais químico do que evolucionista, apesar do assunto ser muito interessante, fiquemos cada um com a sua estratégia e voltemos a este tópico no futuro.

Voltando à química:

Ao se apaixonar, observa-se muitas manifestações associadas ao sistema nervoso simpático, que didaticamente é apelidado do sistema "fuga ou luta". Embora na situação da paixão, a única batalha que queremos travar é a luta pelo coração amado, esse sistema provoca alterações que nos capacitam para fugir ou lutar. As pupilas dilatam para poder ver ao longe, a frequência cardíaca aumenta para que todo o organismo esteja com um bom suprimento de oxigênio, há também um aumento da frequência respiratória, e aumento da glicogenólise para fornecer substratos para uma importante batalha.
 Todas estas reações são governadas pela liberação de adrenalina e noradrenalina, e este circuito mobiliza recursos para lidar com situações ameaçadoras. E se 'amar é dar ao outro a capacidade de te destruir, esperando que ele não o faça", não há nada mais ameaçador que a paixão.  



Além da adrenalina e da noradrenalina, a dopamina tem um papel muito importante na química do amor. É o neurotransmissor envolvido no sistema de recompensa, que é o sistema que é ativado quando há um reforço positivo (um bem estar) após um estímulo prazeroso como um alimento que você gosta, o sexo, um divertimento. Quando o primeiro beijo é bom, há uma descarga de dopamina no circuito de recompensa e o seu organismo aprende que este estímulo lhe causa prazer. Assim, buscará este estímulo mais vezes, sendo considerado um mecanismo de autopreservação. O sistema de recompensa é constituído pelo sistema mesolímbico-mesocortical, onde existem projeções de neurônios dopaminérgicos que produzem uma descarga de dopamina quando há um estímulo positivo. Este sistema foi descoberto em uma experiência com roedores onde provocou-se estímulos elétricos em diferentes regiões cerebrais. Quando esta região era intensamente estimulada, observou-se que os animais se sentiam atraídos por buscar o dispositivo que lhes causava este estímulo elétrico, chegando a se desinteressar por outras atividades que também eram prazerosas, como se alimentar e dormir. Alguma semelhança com as primeiras fases da paixão, quando só conseguimos pensar no ser amado o tempo todo e a única opção que nos contenta é estar na sua presença??



No auge da paixão, as endorfinas são responsáveis pela euforia e a sensação de incontrolável felicidade de se descobrir apaixonado e pensar em um futuro a dois. Porém esta fase inspira alguns cuidados pois este coquetel químico "embaralha" o cérebro e embaça a nossa percepção.  É uma fase em que as áreas do prazer e relaxamento encontram-se ativadas em detrimento das áreas da capacidade de julgamento. Assim, foca-se apenas nas qualidades do ser amado, com pensamentos obsessivos e consequente aumento das expectativas.

Mas esta fase passa. Ocorre uma dessensibilização e o nosso organismo se acostuma. Por isso o primeiro beijo nos provoca esse coquetel de reações e o 434394 beijo, embora possa continuar sendo tudo de ótimo, não causa uma reação assim tão intensa. Se no início da relação qualquer "Oi" no whats app era suficiente para uma descarga simpática, com o passar do tempo é preciso caprichar nos estímulos. Nesta fase, podem ocorrer alguns desencantamentos, quando de fato os defeitos que estavam camuflados começam a ser percebidos.

Mas não acaba por aí. Nos casais que conseguem consolidar o amor, outros hormônios assumem o protagonismo: a ocitocina é responsável pela criação de vínculos, amor romântico e durabilidade da relação. Nas fêmeas, também está associada ao comportamento materno e à lactação. Se  não rolar produção de ocitocina, não se desenvolve o vínculo duradouro.

E você, como vai passar o seu dia dos namorados? Desejo que todos encontrem sempre uma forma saudável de estimular o seu sistema mesolímbico-mesocortical, e aos que desejarem uma relação duradoura, que ela seja repleta de ocitocina, com rompantes de adrenalina, endorfinas e muita dopamina!

Este assunto também foi abordado aqui, neste livro e neste, que recomendo a leitura para quem se apaixonou pelo assunto.