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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Carne de frango com hormônio: mito ou verdade?

    Hoje começa uma série de posts produzidos pelos alunos do Curso de Engenharia de Alimentos na disciplina de Toxicologia e Higiene dos Alimentos. E para começar, uma polêmica: a adição de hormônios à carne de frango é uma realidade ou uma fantasia? Com a palavra as alunas Jane Nogueira, Cecília Bogies e Emanuelle Menegotto.

      A carne que consumimos, principalmente de frango industrial, está cada dia mais polêmica quanto ao uso ou não de hormônios. Neste post vamos explicar se há ou não adição de hormônios nas carnes de animais de corte.
Os hormônios são substâncias produzidas pelos órgãos endócrinos, sendo então, transportados livremente pela corrente sanguínea.  Já a secreção exócrina vai para o exterior do organismo ou para o trato gastrointestinal (eliminado nas fezes). Podem ser hormônios, também, as substâncias produzidas pelos neurônios, sendo eles responsáveis por sensações como de bem-estar e felicidade, como é o caso da serotonina.
O mito envolvendo a carne de frango está relacionado à utilização de hormônios de crescimento, que são sustâncias a base de proteína, que quando utilizados na alimentação dos frangos, não possui o efeito desejado (crescimento) pois são degradados pelo trato gastrointestinal. E não poderiam ser injetados, pois para surtir efeito a aplicação teria que ser diária, o que gera muito transtorno, custos elevados e tempo, além do estresse causado nos animais. Como se pode verificar com as informações anteriores, é inviável a utilização de hormônios na carne de frango, além de que no Brasil os hormônios de crescimento são proibidos, não havendo possibilidade de uso na produção industrial.
O abate de frangos de corte de produção industrial é possível em 40 a 45 dias, devido a melhoramentos genéticos, ou seja, a partir de estudos com escolha das melhores espécies para o rápido ganho de peso e a uma alimentação balanceada em cada etapa do crescimento (nada a ver com transgenia). Já na criação de aves “caipiras”, o consumo de uma ração balanceada que contenha todos os nutrientes, vitaminas e minerais necessários para o crescimento, fica restrito a períodos em que as aves procuram abrigo para a noite ou para se refugiarem do calor. Isto aumenta consideravelmente o tempo para o abate.

Imagem de uma criação de frango de corte.

                                                       Imagem de uma criação de galinha caipira.

A capacidade de crescimento dos frangos aumentou cerca de 65% entre 1930 e 1996, diminuindo cerca de 50% a quantidade de ração consumida e o tempo de crescimento, que era de 105 dias em 1930, passando para 45 dias em 1996 (DOMINGUES; DIEHL, 2012).


                               1930                                              Anos 90

      Bovinos e suínos também passam por este mito, uma vez que, a produção para abate destes animais se dá em currais ou pocilgas, muitos acreditam que sejam utilizados hormônios para acelerar o crescimento e a engorda destes animas. Fato que não é verdadeiro, pois, do mesmo modo que os frangos estudos revelam que, para surtir efeito satisfatório, seriam necessários pulsos diários de injeções intramuscular ou intravenosa para que os animais respondessem positivamente. Para estes, também o uso de tais substâncias é proibido por lei, no Brasil e em vários outros países.
Portanto, a carne de frango entre outras, produzidas industrialmente não possuem hormônios, ela é uma escolha das melhores espécies das linhagens e possui alimentação balanceada em cada etapa do crescimento, isto leva por terra, a falsa ideia de que consumimos carne com presença de hormônios e que, isto afeta a saúde do consumidor.



quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

É possível que o estilo de vida moderno esteja deixando a nossa vida sem sentido??

  Biologicamente falando, o sentido da vida é a reprodução (Teoria do Gene Imortal, defendida por Richard Dawkins, que nada mais é do que uma reinterpretação da teoria da evolução de Darwin, um tema que também gosto muito). Logo, o título deste post pode ser entendido como: "É possível que o estilo de vida moderno esteja ameaçando o sentido da vida, ou seja, a reprodução?". Explico:

  Se comparássemos a contagem e a qualidade de espermatozoides de um homem de 50 anos com a de um homem de 20 anos, qual delas você esperaria que fosse superior? Considere que, aos 20 anos, o homem encontra-se no auge de sua juventude e que o sucesso da espécie depende da sua capacidade de transmitir os seus genes para descendentes. Lembre-se também que houve um tempo em que a expectativa de vida dos humanos era inferior aos 40 anos...
  
  


Representação de uma contagem de espermatozoides normal e diminuída. Além dos aspectos quantitativos, é preciso avaliar a qualidade dos espermatozoides. Eles devem ter o formato representado à direita, sinalizado em azul. Podem ser observados vários defeitos nos espermatozoides, conforme representado acima.

  Exato. O esperado era que o homem de 20 anos apresentasse uma contagem de espermatozoides superior em quantidade e qualidade quando comparado a um homem de 40 anos. Porém, em 1996, o documentário Assault on the Male (Agressão ao homem), produzido pela BBC e disponível no final deste post, revelou uma inversão na lógica biológica. 
  Homens que nasceram na década de 50, e portanto viveram a sua juventude nos anos 70, apresentavam contagem de espermatozoides de 150 milhões/ml. Já os homens que nasceram na década de 70 e viveram a sua juventude nos anos 90 apresentavam uma contagem média de cerca de 75 milhões/ml. Isso é um declínio brutal!!
 Mas por que? Quais alterações foram introduzidas no nosso estilo de vida que poderiam estar relacionadas com estas alterações?



Uma dica: uso indiscriminado de plástico, agrotóxicos, produtos químicos...


  Existem vários compostos que podem ser considerados disruptores ou desreguladores endócrinos. Estas substâncias interferem com a sinalização hormonal. São compostos presentes no plástico, em agrotóxicos, produtos químicos como detergentes, etc... Apesar da sua composição química diversa, eles tem uma coisa em comum: estão amplamente distribuídos no nosso cotidiano! Um exemplo é o bisfenol A (BPA) (voltaremos a falar nele neste blog). O BPA é um componente do plástico. Devido a sua reconhecida atividade estrogênica, surgiram os produtos BPA-free. Em 2011, no Brasil, a presença de BPA em mamadeiras foi proibida (RDC 41 de 16 de setembro de 2011).



Produtos BPA-free. Resolveu?? Aparentemente não! Mas isto é assunto para outro post!


  O mais assustador é que os cientistas do documentário previram que, se nada fosse feito, os meninos nascidos nos anos 90 apresentariam contagens espermáticas de cerca de 50 milhões/ml. Esta previsão assusta pois abaixo de 20 milhões/ml há prejuízos significativos para a fertilidade.
  Bom, mas o documentário foi gravado em 1996 e já se passaram quase 20 anos. Já temos condições de avaliar se conseguimos alterar essa triste previsão ou não, certo? 
  Nos últimos anos, o decréscimo na contagem e qualidade dos espermatozoides fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) padronizasse novos valores de referência para o espermograma (nome do exame que avalia a qualidade dos espermatozoides). Compare os valores que eram considerados normais nos anos 80 com os valores de normalidade em 2010 e tire as suas próprias conclusões.


Valores de referência em diferentes épocas para diferentes parâmetros do espermograma. Os valores seguidos por um asterisco significam que os critérios de avaliação para este parâmetro foram alterados e portanto a comparação direta entre os anos não é possível.

  Uma ressalva a ser feita quando se analisa estes dados é que o controle de qualidade das análises evoluíram e estudos com maior número de participantes foram considerados. Por isso, os valores podem ter sido corrigidos  e antigamente alguns homens podem ter sido diagnosticados como sub- ou inférteis sem sê-lo. Como em tudo na vida, os disruptores endócrinos tem apoiadores e críticos na comunidade científica. Mais sobre estes aspectos no artigo recomendado abaixo.
  Contudo, esta discussão é válida e termino este post ressaltando que não podemos surtar, mas temos que minimizar os estragos. Substituir os produtos com embalagem plástica ajuda, mas não nos isenta. Conforme discutido no documentário, ao substituir o plástico por vidro, se o vidro tiver sido lavado com detergentes com efeito estrogênico, não estaremos livre dos disruptores endócrinos. E aí? Te convido a pensar em alternativas! Pois embora os efeitos desta contaminação possam ser sentidas por todas as espécies, a solução deverá partir da espécie racional.

  Assista ao documentário abaixo. São 36 minutos que eu espero que mudem a tua vida! Ou, que pelo menos te façam pensar...




Para saber mais:

Esteves SC, Zini A, Aziz N, Alvarez JG, Sabanegh ES Jr, Agarwal A. Critical appraisal of World Health Organization's new reference values for human semen  characteristics and effect on diagnosis and treatment of subfertile men. Urology, 79:1, 16-22, 2012.