segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Silimarina, um possível aliado contra a hepatotoxicidade



    O ano está terminando e com ele chegam as apresentações dos trabalhos de conclusão de curso. Este é um período muito especial pois é um dos momentos em que o aluno tem a oportunidade de se envolver com um trabalho de pesquisa, testar suas hipóteses e defender suas conclusões perante a uma banca. É sempre muito bom quando os alunos compreendem que podem tirar o máximo proveito desta oportunidade, que vai dar trabalho de qualquer jeito, e se empenham em fazer bonito. Então hoje, vou falar de um trabalho que começou como um trabalho de conclusão da aluna Elza Calegari e hoje encontra-se publicado na revista International Journal of Pharmacy and Pharmaceutical Sicences.

    Quando a Elza me procurou para orientar o TCC dela ela já sabia com o que queria trabalhar: a hepatotoxicidade do metotrexato, observada nos regimes de tratamento para artrite reumatoide. Gostei muito desta sugestão, pois além de ser minha área de interesse, ela estava muito motivada com o assunto por ter presenciado este tipo de reação tóxica em uma pessoa próxima.

  A artrite reumatoide é uma doença inflamatória crônica das articulações que faz com que o paciente tenha dores nas articulações inflamadas. Uma das alternativas terapêuticas para esta doença é o metotrexato, um fármaco que apresenta como efeito adverso a hepatotoxicidade em pacientes que excedem doses de 20mg/semana. Pacientes com artrite reumatoide fazendo uso desta medicação frequentemente a utilizam cronicamente, por longos períodos e doses elevadas, tornando-se mais suscetíveis a este efeito adverso.

 


Silybum marianum
   Então, no TCC da Elza, utilizamos como modelo animal ratos que receberam metotrexato em um regime simulando um tratamento crônico, para desenvolvimento de hepatotoxicidade. Como protetor, testamos a silimarina, que é isolada da planta cardo mariano (Silybum marianum). Este composto nos pareceu promissor devido às suas propriedades antioxidantes e antiinflamatórias, que fazem com que apresente bons resultados na proteção frente à toxicidade de compostos hepatotóxicos. E de fato, neste trabalho, a silimarina foi capaz de proteger parcialmente os danos provocados pela administração crônica do metotrexato, como a peroxidação lipídica hepática. No artigo publicado, apresentamos todos os resultados e discutimos um possível mecanismo envolvido nesta proteção parcial. Interessados em consultar a publicação, ela se encontra disponível aqui.

  A silimarina já é um produto disponível comercialmente na forma de fitoterápico. Fitoterápicos são medicamentos obtidos com o emprego exclusivo de matérias ativas vegetais, com eficácia e segurança conhecidas, como qualquer medicamento. Não confundir jamais fitoterapia com homeopatia, que adota princípios bem diferentes para fundamentar seus tratamentos. Existe um material muito didático e interessante desenvolvido pelo Ministério da Saúde com esclarecimentos sobre os fitoterápicos, que se encontra disponível aqui.




terça-feira, 17 de novembro de 2015

A segurança dos corantes alimentares


Outro ponto polêmico na área alimentar é o uso de corantes. As alunas do curso de Engenharia de Alimentos Bruna Ribeiro, Elenara Araújo e Giulia Caregnato discutem a segurança destes compostos no post de hoje. Boa leitura!Resultado de imagem para corantes

A aceitação do produto alimentício pelo consumidor está diretamente relacionada a sua cor. A coloração é a primeira qualidade sensorial pelo qual os alimentos são julgados e, portanto, o setor alimentício preocupa-se tanto com a aplicação de cores e obtenção de alimentos que atendam as expectativas dos consumidores. Já imaginou comer um sorvete de morango sem cor? Beber um refrigerante sabor laranja de água com gás? Pois é, ainda bem que os corantes fazem parte da nossa vida. Porém, há muito questionamento sobre a utilização dos corantes artificiais para nossa saúde.
O uso de corantes como aditivos alimentícios tem sido altamente explorado em alimentos tais como sucos, balas, guloseimas, gelatinas e refrigerantes. No entanto, tem também aumentado a preocupação quanto aos riscos toxicológicos desses produtos e/ou seus metabólitos no organismo humano (FERREIRA, et al., 1998).
Corantes são aditivos alimentares definidos como toda substância que confere, intensifica ou restaura a cor de um alimento. Existem três categorias de corantes permitidas pela legislação para uso em alimentos: os corantes naturais, o corante caramelo e os corantes artificiais.
Os corantes artificiais são uma classe de aditivos sem valor nutritivo, introduzidos nos alimentos e bebidas com o único objetivo de conferir cor. Por esse motivo, do ponto de vista da saúde, os corantes artificiais em geral não são recomendados. No Brasil, o Ministério da Saúde (Act. No 55871/65, de 1965), tem permitido o uso de poucos corantes sintéticos em artigos alimentícios, em concentrações rigorosamente controladas. A lista de corantes permitidos varia de cada país devido sua diversidade, com isso, se estabeleceu legislações para controlar seu uso.
Os corantes se utilizados nos limites da legislação não fazem mal à saúde, de acordo com estudos toxicológicos da ANVISA. Porém o consumo em excesso dessas substâncias podem trazer malefícios a saúde.
Em entrevista, Fernando Gianninni afirma que “Os artificiais são, geralmente, mais propensos a efeitos colaterais de cunho alérgico por sua origem sintética e sua matéria-prima original. Ainda assim, apenas uma minoria de pessoas são sensíveis a esses aditivos”.

Além das reações alérgicas que podem acometer qualquer pessoa, estudos recentes apontam que corantes e conservantes podem estar relacionados à hiperatividade e a distúrbios de concentração em crianças.O estudo do consumo de aditivos em relação à saúde pública brasileira mostra divergência de resultados quanto ao aparecimento de câncer.

            Tendo em vista a grande polêmica em relação aos corantes, é necessário ter bom senso. Neste link, a ANVISA lista todos os corantes permitidos e proibidos por lei, cabendo a nós verificar os rótulos das embalagens e dosar o consumo destas substâncias, pois muitos estudos apontam riscos para a saúde humana.

sábado, 14 de novembro de 2015

Intoxicação escombroide

   Entre as doenças causadas por alimentos, cita-se a intoxicação escombroide. Esta intoxicação está associada ao consumo de frutos do mar mal conservados, onde a quantidade de histamina é maior do que o permitido por lei. No post de hoje, as alunas do Curso de Engenharia de Alimentos Monique Kappes, Crisley Dalbosco e Tauana Almeida, explicam por que esta intoxicação ocorre e como preveni-la.


  Aminas bioativas como a histamina são compostos nitrogenados de grande relevância biológica em vegetais, microrganismos e células animais, podendo ser encontrados em alimentos crus e processados. As aminas resultam do metabolismo normal de animais, vegetais e microrganismos. Na microbiologia de alimentos, algumas vezes são associados aos processos de decomposição ou de fermentação.

Nos humanos, as aminas bioativas sintetizadas endogenamente, ou seja, no interior do organismo, desempenham funções metabólicas importantes no sistema nervoso e no controle da pressão arterial. As mesmas não podem entrar na circulação, para isso o ser humano possui um sistema de enzimas metabolizadoras, onde sua maior parte é encontrada no intestino, como também no fígado, pulmão, plaquetas, estômago, baço e rins. As enzimas metabolizadoras mais importantes são monoamina oxidases A e B, diamina oxidase, fenolsulfotransferase M e histamina N-metiltransferase


A histamina é uma amina muito importante, podendo ser classificada como amina natural, sendo armazenada em mastócitos ou basófilos, ou como biogênica, ou seja, formadas pela ação de organismos vivos através do processo de descarboxilação de aminoácidos. Ainda que a histamina seja relacionada à intoxicação, a mesma não é uma substância desconhecida ao organismo humano, sendo armazenada em células especializadas, onde são liberadas pequenas doses fisiológicas necessárias e desejáveis, estando envolvidas em várias funções como a liberação de ácido estomacal, entretanto, altas doses a torna tóxica, podendo causar envenenamento.

A enzima monoamino oxidade (MAO) é responsável pela regulação da absorção intestinal da histamina, onde a mesma é liberada através de enterócitos do intestino delgado para o lúmen intestinal. Entretanto, a má função ou redução na atividade da MAO podem transformar-se em elevadas doses sanguíneas de histamina. Os redutores da atividade da MAO são as drogas, como também álcool e seus produtos de degradação.

De acordo com a legislação vigente, no Brasil, o nível máximo de histamina no músculo de espécies pertencentes às famílias Scombridae, Scombresocidae, Clupeidae, Coryyphaenidae é de 100ppm (BRASIL, 1997).

A histamina tem sido envolvida em surtos de intoxicação alimentar denominada “intoxicação escombroide”, causada principalmente pelo consumo de frutos do mar, sobretudo peixes escombrídeos como a cavala (Scomber japonicus), atum (Thunnus spp), mahimahi (Coryphaena hippurus), sardinha (Sardina pilchardus) e anchova (Pomatomus saltratrix), os mesmos contêm alta concentração do aminoácido histidina em sua forma livre, responsável pela produção dessa amina por meio da ação de enzimas descarboxilases de origem bacteriana.

A contaminação ocorre quando o peixe é exposto por muito tempo a altas temperaturas, quando não são resfriados após a despesca ou retirados da cadeia de frios. Ressalta-se ainda que mesmo que o peixe esteja contaminado com altos níveis de histamina, a deterioração do mesmo nem sempre é visível a olho nu. Sua produção depende de fatores extrínsecos que favorecem a multiplicação de microrganismos como pH próximo a neutralidade, elevada atividade de água nos tecidos, altos teores de lipídeos insaturados, alta atividade metabólica da microbiota e rápida destruição pela ação das enzimas autolíticas.

A forma de manifestação dos efeitos da histamina se da através da ligação aos receptores na membrana celular da pele e dos sistemas respiratório, cardiovascular, gastrointestinal e imunológico. A histamina causa uma doença leve, com sintomas variados, tais quais, erupções cutâneas, urticária, náuseas, vômitos, diarreia, pressão alta, vermelhidão e prurido na pele (sensação incômoda que leva a coçar). O aparecimento dos sintomas varia de minutos a três horas após a ingestão do peixe contaminado.

A intoxicação causada pela histamina é um problema de saúde pública e segurança alimentar, sendo visto como uma barreira comercial de controle de qualidade, com isso sendo de suma importância a interrupção do crescimento microbiano. O emprego de baixas temperaturas na indústria pesqueira pode ser um dos mecanismos mais importantes no controle da concentração de histamina em peixes, seguido de boas práticas de higiene.
           

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria nº185 de 13 de
maio de 1997. Aprova Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Peixe
Fresco. Brasília: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 1997.

ARRUDA, M. L. T. Considerações sobre a importância das aminas bioativas em alimentos com enfoque para intoxicação escombróide pelo consumo de pescados. Dissertação (Doutorado em Ciência Animal). Universidade Federal de Goiás, Goiânia/GO, 2011, 25 p.

SOPELETE, M., C.;  CARRIJO, K. DE F. Portfólio educacional digital como recurso na divulgação científica acerca da intoxicação escombroide pelo consumo de pescado. DIVERSA PRÁTICA, v. 1, n. 2, p. 58-82, jan./jul. 2013.