terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O farmacêutico na indústria - relato das alunas Paula e Daniela

  Um dos campos de atuação do farmacêutico é a indústria de medicamentos. Embora durante a minha formação eu tenha me identificado mais com as disciplinas de Análises Clínicas, acho que a indústria é um campo de trabalho muito bom! Desde as fases de pesquisa e desenvolvimento, até a produção e controle de qualidade, a indústria é um parque de diversões para farmacêuticos e futuros farmacêuticos. Em novembro de 2013, a Revista exame elegeu 6 carreiras promissoras dentro da profissão farmacêutica. A maioria delas estão ligadas à indústria, com remuneração bastante atrativa.

   Por tudo isso, os olhos dos nossos alunos brilham quando falamos em indústria. Grande parte deles adora todo o processo envolvido na essência da profissão que escolheram: produzir formas farmacêuticas. As aulas práticas do domínio da indústria são motivantes pois eles produzem comprimidos coloridos, cremes, batons, shampoos, e depois levam para casa. O encanto é tanto que já me solicitaram para falar também sobre a indústria neste espaço (não é, Éllen?), o que eu prontamente atendi! De fato, há algo de mágico em calcular o melhor perfil para determinada droga, verificar quais seriam os melhores excipientes e por fim produzir um comprimido. Confesso que até eu adoro visitar o laboratório da minha amiga e colega Charise (professora de disciplinas ligadas à indústria no Curso de Farmácia da UPF) e vê-la fazendo comprimidos, testes de dissolução ou tentando melhorar o perfil de uma droga que já existe (modificando sua formulação para que faça efeito mais rápido ou durante mais tempo, etc...). A tecnologia farmacêutica é pura aplicabilidade da inteligência farmacêutica.   
  
   Este mês, duas alunas do Curso de Farmácia da UPF, a Dani e a Paula, estão tendo a oportunidade de realizar um estágio de férias na Prati Donaduzzi, indústria localizada em Toledo, Paraná. Como professora delas, só tenho a dizer que são muito dedicadas e inteligentes, por isso tenho certeza que estão aproveitando ao máximo esta oportunidade. Isto fica claro logo de cara, afinal, não são todas as pessoas que abrem mão das férias para realizar um estágio. Então, convidei as duas para falar um pouco sobre esta experiência para o blog. 

Estas são a Paula Hayet e a Daniela Kilpp em frente à Prati-Donaduzzi, onde representam muito bem o nosso curso. Da UPF para o mundo!

“Ter a oportunidade de passar um mês fazendo estágio de férias em uma Indústria Farmacêutica como a Prati-Donaduzzi, esta sendo uma experiência muito gratificante e desafiadora. Além de estarmos em contato com diversos setores da empresa e principalmente com a produção, temos aulas aonde trabalhamos em grupos, com colegas de diversas áreas além da Farmácia como Engenharia Química, Engenharia de Produção, Engenharia Civil, Biologia, Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, aonde são confrontadas diversas opiniões/idéias, nos acrescentando assim um conhecimento mais amplo do que é o fluxo de Indústria Farmacêutica”.

Daniela Kilpp e Paula Hayet.
Acadêmicas do IX semestre curso Farmácia-UPF.

  A carga horária delas é bem pesada, pois além da rotina da indústria, elas tem aulas e trabalhos para realizar. Mesmo assim, eu pedi um depoimento e elas foram além e fizeram também um vídeo, que eu compartilho com vocês! 



 Dani e Paula, obrigada por serem as minhas primeiras correspondentes do blog! Ver vocês tão bem me deixou muito feliz e orgulhosa! 
  

domingo, 25 de janeiro de 2015

Habemus canabidiol! E aí?

   No dia 14 de janeiro de 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) decidiu pela reclassificação do canabidiol, que antes tinha o status de substância proibida e agora passa a receber o tratamento de substância controlada (Lista C1 - Portaria 344/1998). Desde então, muito tem sido discutido a este respeito e também muitas dúvidas permanecem.


Canabidiol, composto isolado, e a popular folha de maconha.

  Primeiramente, o que é o canabidiol? 
 Este composto é um canabinoide presente na Cannabis sativa. Vale lembrar que a Cannabis sativa é uma planta complexa. Mais de 480 compostos já foram isolados da Cannabis, entre eles cerca de 70 canabinoides. Os canabinoides são compostos que atuam nos receptores canabinoides que estão presentes no sistema nervoso e imunológico. E se temos receptores específicos para estes compostos, é sinal que temos algo endógeno capaz de atuar nestes locais, certo? Portanto, saiba que todos nós produzimos os nossos próprios endocanabinoides (compostos com estrutura química similar aos canabinoides encontrados na Cannabis sativa). 

  O que provocou a alteração da posição da ANVISA com relação a este composto?
   A discussão ganhou força com casos extremos de pacientes portadores de espasmos e epilepsia que não respondiam às alternativas terapêuticas no mercado. Anny Fisher,  que apresentava cerca de 30-80 episódios convulsivos por semana, apresentou melhora no quadro com o uso do canabidiol. Após a divulgação do caso, mais famílias brasileiras passaram a tentar autorizações judiciais  para importar o canabidiol. Mas como este composto era proibido, este processo era bastante burocrático. O pico das discussões em torno deste tema ocorreu em 2014, culminando com a decisão de readequação do composto pela ANVISA em 2015. 
   Esta discussão seguiu de forma paralela a outro debate no Brasil: a maconha deve ser legalizada?  E aí que começa a confusão.

  Conforme já referido, a maconha tem composição muito complexa. O que aconteceu até o momento foi a reclassificação de um destes componentes, que deverá ser utilizado de forma isolada e purificada. Isto é muito positivo pois os cientistas brasileiros poderão estudar os efeitos deste composto com maior facilidade. Além disso, os casos extremos que estavam sem alternativas poderão importar o medicamento (pois no momento ainda não temos nenhum medicamento com este princípio ativo registrado no Brasil). Mas é preciso ponderar que não podemos ter nenhum preconceito com o canabidiol por causa da sua origem, e muitas vezes testemunhamos duas correntes:

1- os que defendem que não há evidências suficientes para que este composto seja utilizado e por ser isolado de uma droga, não deveria ser liberada (esta corrente está cada vez mais rara, mas ainda existe e tem alguma razão: de fato são poucas as evidências. Precisamos conduzir estudos clínicos para avaliar todos os efeitos positivos e negativos. As evidências que temos até o momento são em casos extremos e exatamente por isso consegue-se pular algumas etapas nestes ensaios devido a gravidade e ausência de alternativas. Mas sem sombra de dúvidas, devemos utilizar o potencial medicinal desta droga, desde que de forma técnica e responsável para produzir as evidências que vão sustentar a terapêutica a longo prazo).

2- os que alegam que a maconha tem um potencial maravilhoso e deve ser explorada. Alguns mais radicais defendem que fumar maconha pode resolver epilepsia, convulsão, distúrbios psiquiátricos, enfim, é tudo de bom. Calma! Efeitos com medicamentos tecnicamente elaborados a partir de canabidiol não são sequer comparáveis com um cigarro de maconha. Não é esta a indicação! Precisamos saber o real teor de canabidiol, a forma farmacêutica correta (se vai ser spray nasal, comprimido, cápsula... tudo isso fará diferença) em um produto que passou por padronização e controle de qualidade. Um cigarro de maconha é sujeito à vários contaminantes externos e a presença dos outros compostos e fitocanabinoides podem inclusive ter efeito contrário ao desejável.

  Particularmente eu não acredito que iremos chegar no ponto de plantarmos Cannabis para extrair o canabidiol. Primeiro porque o teor dos compostos das plantas é muito variável com as condições de solo, umidade, temperatura,... o que coloca um entrave técnico. Segundo porque o teor do canabidiol é muito baixo e o rendimento dos processos extrativos não compensaria. Acredito que o caminho será sintetizar em laboratório o canabidiol através de processo químico. E não torça o nariz para a palavra sintética!
  Algo curioso: um dos primeiros estudos que sinalizaram um potencial terapêutico do canabidiol foi realizado por brasileiros. Não consigo entender por que não fomos pioneiros na continuidade destes estudos, tratamentos e legislação. Por que a ciência básica não se traduziu em ciência aplicada? De enlouquecer!

  Tudo isso e muito mais foi abordado no programa "Conversas Cruzadas", da TV COM, de 20 de janeiro (link abaixo). O debate é esclarecedor e vale muito a pena! 
   Mas não confundam a reclassificação do canabidiol com a legalização da maconha. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. A perspectiva da legalização da maconha voltará a ser abordada no blog, aguardem!


PS: Um dos ouvintes referiu que nunca ouviu falar em nenhum caso de morte por maconha. Como eu trabalho com isso, já vi os dois extremos quando se trata de droga: a "droga pesada" que não faz efeito e a "droga leve" que tem efeitos devastadores. Não há muito padrão pois depende de uma série de fatores (individuais e da própria droga, que é sempre de composição complexa e cheia de adulterantes).  Aqui você encontra um caso de morte com maconha sintética.

Já sei, você pensou, novamente: ah, mas é sintética! Voltaremos a discutir a máxima "tudo que é natural faz bem" aqui no blog!


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Experimento simples, para fazer em casa e estimular os pequenos cientistas


   Atenção pais, mães, avós, dindos e tios! 
  Como estamos no período de férias escolares das crianças e com a chegada do final de semana, quando os adultos invariavelmente conseguem alguma folga, o post de hoje é um convite ao estímulo de pequenos cientistas. Trata-se de uma experiência muito simples e fácil de fazer em casa que permite verificar se as frutas auxiliam ou não na digestão. Apesar da simplicidade, é muito interessante e pode ser repetida com várias combinações de frutas. A criatividade é o limite! Acredito que possa ser uma boa forma de passar um tempo agradável e estimular o raciocínio científico das crianças.
   Conheci esta experiência através do vídeo disponibilizado no final deste post e até já realizei esta experiência em aula prática de uma turma muito querida na disciplina de Bioquímica de Alimentos no Curso de Engenharia de Alimentos. 

Para a experiência, você vai precisar de:

Fruta que você queira testar. O legal é experimentar com uma fruta famosa por estimular a digestão (abacaxi, mamão) e outra que não tenha esta indicação. Em uma aula prática com alunos do curso de Engenharia de Alimentos, eles optaram por isolar diferentes partes da fruta, por ex: casca de abacaxi, semente de maçã... Pois caso a melhor atividade digestiva estivesse em partes não comestíveis, poderíamos pensar em isolar os compostos presentes nestes locais para melhor explorar esta atividade. Assim que nascem as descobertas! Outra possibilidade: explorar frutas maduras e a mesma fruta verde, combinações de frutas para ver se o efeito observado se mantém, etc...

- Peneira ou coador.

- Liquidificador.

- Fogão.

- Gelo ou geladeira.

- Pó para gelatina. 

- Colher de chá.

- Faca.

- Copos de vidro.

Como fazer:


  Solubilizar a gelatina em água e preparar os extratos de frutas que serão testados. Os extratos são preparados após trituração no liquidificador com um pouco de água. Sim, é isto mesmo: picar a fruta e processar no liquidificador. Após a trituração, coar e separar a parte líquida. Este é o extrato da fruta que supostamente contém as enzimas digestivas. 
  Se você estiver utilizando apenas uma condição (uma fruta), separe dois copos. Caso esteja utilizando mais do que uma fruta, o número de copos é sempre o dobro do número de frutas a testar.      Coloque cerca de 4 ml de gelatina ainda líquida em cada um deles. O volume não precisa ser rígido, mas o ideal é que você coloque o mesmo volume nos dois copos. Em um dos copos, acrescente metade do volume anterior de água. No outro copo, acrescente também metade do volume de gelatina do seu extrato enzimático (fruta que você quer testar). Armazene os tubos em gelo ou na geladeira e espere a gelatina adquirir a consistência de gel.
   O tubo incubado com água deverá geleificar, pois adicionamos apenas água. Este tubo é o controle da nossa reação. Quando a gelatina estiver geleificada neste tubo, retire todos os tubos do gelo/geladeira e compare. A gelatina incubada com o extrato da fruta encontra-se líquida ou gelificada?

   Considerando que os dois tubos continham os mesmos volumes, os mesmos componentes e foram incubados em gelo pelo mesmo tempo, a única coisa diferente entre eles é a presença do extrato da fruta ou a água. Sendo assim, se o extrato da fruta interferiu com o fenômeno que seria esperado ( geleificação da gelatina), é porque possivelmente possui uma atividade digestiva.

   Então, sobram algumas questões para discutir com a criança (não importa que idade ela tenha):

Por que a gelatina endurece?
A gelatina é fruto da hidrólise parcial do colágeno, que é uma proteína. Assim como a água muda de estado físico em diferentes temperaturas, o colágeno possui a propriedade de estar no estado sólido no frio e líquido no calor. Ao hidratar essa proteína (solubilização do pó da gelatina com água) sob aquecimento, suas partículas se separam. Ao colocá-la a uma temperatura inferior a 30ºC, forma-se um gel porque as partículas conseguem ficar unidas novamente. Porém, como estão hidratadas, moléculas de água encontram-se aprisionadas na estrutura, conferindo a consistência de um gel.

Por que o extrato enzimático impediu a formação do gel de gelatina?
Porque as enzimas presentes no extrato enzimático são capazes de romper (digerir) a cadeia de proteína.

Contextualizando:
Quando nos alimentamos com uma refeição rica em proteínas, como um churrasco, a sabedoria popular recomenda o acompanhamento de um suco de fruta para facilitar a digestão. Se a fruta testada interfere na solidificação da gelatina, esta aplicação se confirma!

  Abaixo um vídeo demonstrando esta experiência. O vídeo foi produzido pela Universidade Estadual de Campinas.




 

Outras experiências interessantes:
www.pontociencia.org.br

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

É possível que o estilo de vida moderno esteja deixando a nossa vida sem sentido??

  Biologicamente falando, o sentido da vida é a reprodução (Teoria do Gene Imortal, defendida por Richard Dawkins, que nada mais é do que uma reinterpretação da teoria da evolução de Darwin, um tema que também gosto muito). Logo, o título deste post pode ser entendido como: "É possível que o estilo de vida moderno esteja ameaçando o sentido da vida, ou seja, a reprodução?". Explico:

  Se comparássemos a contagem e a qualidade de espermatozoides de um homem de 50 anos com a de um homem de 20 anos, qual delas você esperaria que fosse superior? Considere que, aos 20 anos, o homem encontra-se no auge de sua juventude e que o sucesso da espécie depende da sua capacidade de transmitir os seus genes para descendentes. Lembre-se também que houve um tempo em que a expectativa de vida dos humanos era inferior aos 40 anos...
  
  


Representação de uma contagem de espermatozoides normal e diminuída. Além dos aspectos quantitativos, é preciso avaliar a qualidade dos espermatozoides. Eles devem ter o formato representado à direita, sinalizado em azul. Podem ser observados vários defeitos nos espermatozoides, conforme representado acima.

  Exato. O esperado era que o homem de 20 anos apresentasse uma contagem de espermatozoides superior em quantidade e qualidade quando comparado a um homem de 40 anos. Porém, em 1996, o documentário Assault on the Male (Agressão ao homem), produzido pela BBC e disponível no final deste post, revelou uma inversão na lógica biológica. 
  Homens que nasceram na década de 50, e portanto viveram a sua juventude nos anos 70, apresentavam contagem de espermatozoides de 150 milhões/ml. Já os homens que nasceram na década de 70 e viveram a sua juventude nos anos 90 apresentavam uma contagem média de cerca de 75 milhões/ml. Isso é um declínio brutal!!
 Mas por que? Quais alterações foram introduzidas no nosso estilo de vida que poderiam estar relacionadas com estas alterações?



Uma dica: uso indiscriminado de plástico, agrotóxicos, produtos químicos...


  Existem vários compostos que podem ser considerados disruptores ou desreguladores endócrinos. Estas substâncias interferem com a sinalização hormonal. São compostos presentes no plástico, em agrotóxicos, produtos químicos como detergentes, etc... Apesar da sua composição química diversa, eles tem uma coisa em comum: estão amplamente distribuídos no nosso cotidiano! Um exemplo é o bisfenol A (BPA) (voltaremos a falar nele neste blog). O BPA é um componente do plástico. Devido a sua reconhecida atividade estrogênica, surgiram os produtos BPA-free. Em 2011, no Brasil, a presença de BPA em mamadeiras foi proibida (RDC 41 de 16 de setembro de 2011).



Produtos BPA-free. Resolveu?? Aparentemente não! Mas isto é assunto para outro post!


  O mais assustador é que os cientistas do documentário previram que, se nada fosse feito, os meninos nascidos nos anos 90 apresentariam contagens espermáticas de cerca de 50 milhões/ml. Esta previsão assusta pois abaixo de 20 milhões/ml há prejuízos significativos para a fertilidade.
  Bom, mas o documentário foi gravado em 1996 e já se passaram quase 20 anos. Já temos condições de avaliar se conseguimos alterar essa triste previsão ou não, certo? 
  Nos últimos anos, o decréscimo na contagem e qualidade dos espermatozoides fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) padronizasse novos valores de referência para o espermograma (nome do exame que avalia a qualidade dos espermatozoides). Compare os valores que eram considerados normais nos anos 80 com os valores de normalidade em 2010 e tire as suas próprias conclusões.


Valores de referência em diferentes épocas para diferentes parâmetros do espermograma. Os valores seguidos por um asterisco significam que os critérios de avaliação para este parâmetro foram alterados e portanto a comparação direta entre os anos não é possível.

  Uma ressalva a ser feita quando se analisa estes dados é que o controle de qualidade das análises evoluíram e estudos com maior número de participantes foram considerados. Por isso, os valores podem ter sido corrigidos  e antigamente alguns homens podem ter sido diagnosticados como sub- ou inférteis sem sê-lo. Como em tudo na vida, os disruptores endócrinos tem apoiadores e críticos na comunidade científica. Mais sobre estes aspectos no artigo recomendado abaixo.
  Contudo, esta discussão é válida e termino este post ressaltando que não podemos surtar, mas temos que minimizar os estragos. Substituir os produtos com embalagem plástica ajuda, mas não nos isenta. Conforme discutido no documentário, ao substituir o plástico por vidro, se o vidro tiver sido lavado com detergentes com efeito estrogênico, não estaremos livre dos disruptores endócrinos. E aí? Te convido a pensar em alternativas! Pois embora os efeitos desta contaminação possam ser sentidas por todas as espécies, a solução deverá partir da espécie racional.

  Assista ao documentário abaixo. São 36 minutos que eu espero que mudem a tua vida! Ou, que pelo menos te façam pensar...




Para saber mais:

Esteves SC, Zini A, Aziz N, Alvarez JG, Sabanegh ES Jr, Agarwal A. Critical appraisal of World Health Organization's new reference values for human semen  characteristics and effect on diagnosis and treatment of subfertile men. Urology, 79:1, 16-22, 2012.

Potencial antibiótico a partir do veneno da Jararaca

  Segundo a Organização Mundial da Saúde, infecções causadas por bactérias ainda ocupam o topo da lista de causa de morte. Elas podem ser combatidas com antibióticos. Porém, as bactérias possuem uma grande capacidade de se adaptar aos medicamentos disponíveis, tornando-se resistentes a eles.


 Como surgem as chamadas "superbactérias". Ilustração: https://eco4u.wordpress.com/2011/02/24/uso-indiscriminado-de-medicamentos-oms-alerta-sobre-o-perigo-das-superbacterias/arte_superbacteria-2/

 Existem vários pesquisadores dedicados a descoberta de novos antibióticos, mas estes estudos levam tempo. Recentemente, tivemos a boa notícia da descoberta de um novo composto antibiótico, a teixobactina, que funcionou contra as "superbactérias" em modelos animais e in vitro. Se este potencial for confirmado em humanos, estaremos diante de uma nova classe de medicamentos, com compostos isolados a partir de bactérias presentes no solo.  A notícia foi recebida com muito entusiasmo pois há muitos anos uma nova classe de antibióticos não era descoberta. Mais detalhes sobre a teixobactina, aqui:


  Bom, mas por aqui também temos boas notícias! Durante o último ano, o agora farmacêutico Lucas Henrique Cendron, no âmbito do seu Trabalho de Conclusão do Curso de Farmácia, testou a atividade antibacteriana do veneno da jararaca (Bothrops jararaca). 

Esta é a serpente peçonhenta Bothrops jararaca. Ela pode ser reconhecida pela coloração marrom esverdeada, com desenhos na forma de “V” invertido em cor preta ou castanha escuro, cauda lisa. Em caso de dúvida, não se aproxime!

 Já haviam outros estudos que nos indicavam que este veneno era promissor contra bactérias, mas a grande novidade do Lucas é que no seu trabalho nós testamos o veneno contra 16 bactérias resistentes isoladas de pacientes internados em um hospital local, obtendo inibição no crescimento de todas elas quando incubadas com o veneno.

Como é feito este teste?
 Através de um antibiograma, como o da foto abaixo (foto do material suplementar do artigo do Lucas, link disponível abaixo).




 Aqui temos duas placas com um "tapete bacteriano".  Cada disco assinalado com letras ou números correspondem a um tipo de tratamento. C+ significa que o disco está impregnado com o antibiótico padrão, o tratamento atualmente considerado efetivo para esta bactéria. É o nosso controle positivo, que deverá funcionar, ou seja, deveremos ter inibição do crescimento da bactéria conforme pode ser observado nas duas placas pelo halo transparente ao redor do C+, que significa que nas proximidades do antibiótico as bactérias não cresceram). O C- é o controle negativo, para garantir que nosso teste está correto. Não deverá ocorrer inibição do crescimento da bactéria. SM é a nossa solução mais concentrada de veneno, e 1,2,3,4 e 5 representam diluições do veneno. Repare que na primeira placa, é possível observar inibição mesmo com a diluição 3. E na segunda placa, a solução mais concentrada do veneno (SM) e a solução diluída 1 apresentam um halo de inibição com maior diâmetro do que o tratamento padrão disponível. Isto significa que o veneno da jararaca apresenta potencial antibacteriano contra estas bactérias.

 Mais detalhes sobre este estudo bem como a discussão das suas limitações e perspectivas encontram-se disponíveis em:

http://www.scirp.org/journal/PaperInformation.aspx?paperID=52046#.VL8R7ivF9UU


 Também falamos um pouquinho sobre este trabalho no programa Universidade Aberta, da TV UPF: 



 Apesar dos resultados promissores do Lucas e de vários outros trabalhos, vale lembrar que uma bactéria pode tornar-se resistente em poucas horas. Já o desenvolvimento de um novo medicamento para combatê-la demora cerca de mais de 20 anos para ficar pronto. E muitas vezes, os compostos que eram promissores inicialmente se revelam inadequados em fases posteriores. Ou seja, as bactérias ainda estão em vantagem e a situação é preocupante!

 Então, o que você pode fazer para ajudar?

 Se você for estudante de farmácia e se interessou pelo assunto, pode me procurar para fazer iniciação científica neste projeto e assim, continuarmos com estas pesquisas.

 Mas, se você não é da área, mesmo assim, pode ajudar e muito!

Como? 

 Fazendo um uso racional dos antibióticos, que inclui:
- Não utilizar antibióticos quando não for necessário.
-Seguir a risca o horário e o regime de administração dos antibióticos, para não dar chance de selecionar bactérias resistentes. Ou seja, você deve tomar a sua medicação no horário combinado e deverá seguir tomando a medicação até o fim do tratamento. Mesmo que já se sinta melhor antes disso! E qualquer dúvida, recorra ao seu farmacêutico.

 Por que?

 Porque é o mau uso dos antibióticos que muitas vezes selecionam bactérias resistentes! Conscientize-se e ajude a conscientizar seus amigos e vizinhos. Pois você não está garantido se fizer certo e os outros não...

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Bem vindos ao blog!!

  Este blog nasce no dia do farmacêutico (20 de janeiro) com o objetivo de ser mais um espaço de discussão de questões importantes da ciência e da profissão farmacêutica, especialmente relacionadas às disciplinas que ministro no Curso de Farmácia (Análises Toxicológicas, Citologia Clínica e Hematologia Clínica). Ele nasce com a pretensão de ser uma ampliação da sala de aula para os meus alunos, ex-alunos e futuros alunos. Mais que isso, como o próprio nome diz, é feito para todos que se interessam pelos assuntos aqui discutidos. 
  
 O blog tem este nome em homenagem a Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493-1541), conhecido como Paracelsus, que é considerado o pai da Toxicologia e autor da famosa frase: "The dose makes the poison". Em sua variação: "Todas as substâncias são venenos; não existe uma que não seja veneno. A dose certa diferencia um veneno de um remédio".

                      Paracelsus, o pai da Toxicologia.

  Eu poderia resumir a importância da profissão farmacêutica ao dizer simplesmente que a vida na Terra só é possível porque existem farmacêuticos. Este é o profissional do medicamento, por excelência. Sem eles, não sobreviveríamos a uma gripe e nossa expectativa de vida não passaria dos 20 anos. Todo o remédio que você consome passou pela mente e pelas mãos de inúmeros farmacêuticos: desde a sua concepção (envolvendo nossos conhecimentos de química farmacêutica e desenvolvimento da formulação por meio da tecnologia farmacêutica), anos de testes de eficácia e segurança para garantir que tudo funcione da melhor maneira possível (envolvendo ensaios pré-clínicos e clínicos), produção e controle de qualidade do medicamento tecnicamente elaborado até a sua dispensação e orientação para que o seu uso seja racional. Somos responsáveis por toda esta cadeia, desde a produção até a recepção da medicação pelo paciente. Temos ainda diversos outros campos para atuar, como as análises clínicas, onde somos capazes de realizar testes que diagnosticam várias doenças, farmácia hospitalar, onde podemos individualizar terapias através da farmácia clínica e indústria de alimentos. Os farmacêuticos possuem mentes inquietas pois a essência da profissão investigativa. Em todos os campos temos que experimentar o novo, desconfiar dos nossos resultados, verificar se o que observamos pode ser alguma interação com medicamentos ou alimentos e agir.   

  Quando questionado por que se formou farmacêutico já que havia assumido a carreira literária, um colega respondeu:
  "Farmacêuticos, em todos os tempos e lugares, trazem mesmo lições de amor às pessoas. Aliás, para o farmacêutico, amar não é apenas o verbo transitivo direto que se aprende a conjugar, nas escolas. Amar é ação. A ação de servir, a qualquer hora de qualquer dia e em qualquer lugar. É cuidar, é promover a saúde, é salvar vidas." 
                                                                              Carlos Drummond de Andrade, poeta e farmacêutico

Carlos Drummond de Andrade, poeta e farmacêutico, eternizado em estátua de bronze em Copacabana, Rio de Janeiro. Atualmente é o segundo monumento mais visitado da cidade maravilhosa, perdendo apenas para o Cristo Redentor, segundo http://postozero.com/ar-livre/pontos-de-interesse/estatua/estatua-de-carlos-drumond-andrade.


 Embora o farmacêutico tenha muitos campos de atuação, talvez o local mais conhecido pela população seja a Farmácia. A presença deste profissional neste local é essencial para distinguir um estabelecimento de saúde (recentemente a farmácia foi considerada unidade de saúde através da Lei 13.021/2014) de um mero comércio. Esta lei é muito importante pois o farmacêutico é o profissional da saúde mais acessível à população uma vez que se encontra disponível na farmácia mais próxima (e nós sabemos que existem muitas, muitas farmácias, às vezes uma ao lado da outra).Para consultar o seu farmacêutico, você não precisa marcar hora e nem ficar na fila. E ele estará preparado para responder todas as suas dúvidas sobre a sua medicação, possíveis interferentes, poderá prescrever um medicamento isento de receita médica ou te encaminhar para um médico caso haja necessidade. Logo, é imprescindível que estes estabelecimentos de saúde possuam farmacêuticos disponíveis enquanto a farmácia estiver aberta (aos domingos, feriados, o tempo todo!). Exija ser atendido pelo farmacêutico, é um direito seu!
  Este ano o Conselho Federal de Farmácia lançou uma campanha que está sendo veiculada na televisão e nas redes sociais para divulgar o direito de um atendimento capacitado nas Farmácias:

Campanha publicitária nacional do Conselho Federal de Farmácia e Conselhos Regionais de Farmácia.

  No dia de hoje, desejo que todos os farmacêuticos presentes nos mais variados campos de atuação possam sempre ser verdadeiros Farmacêuticos e trabalhar para o grande objetivo comum: a melhoria da qualidade de vida. 
  
  Finalizo este primeiro post com outra citação de Paracelsus que gosto muito: 

  "Todos são interligados. O céu e a terra, ar e água. Todos são, uma só coisa; não quatro, e não duas, e não três, mas um. Se não estiverem juntos, há apenas uma peça incompleta."