O ano está terminando e com ele chegam as apresentações dos trabalhos de conclusão de curso. Este é um período muito especial pois é um dos momentos em que o aluno tem a oportunidade de se envolver com um trabalho de pesquisa, testar suas hipóteses e defender suas conclusões perante a uma banca. É sempre muito bom quando os alunos compreendem que podem tirar o máximo proveito desta oportunidade, que vai dar trabalho de qualquer jeito, e se empenham em fazer bonito. Então hoje, vou falar de um trabalho que começou como um trabalho de conclusão da aluna Elza Calegari e hoje encontra-se publicado na revista International Journal of Pharmacy and Pharmaceutical Sicences.
Quando a Elza me procurou para orientar o TCC dela ela já sabia com o que queria trabalhar: a hepatotoxicidade do metotrexato, observada nos regimes de tratamento para artrite reumatoide. Gostei muito desta sugestão, pois além de ser minha área de interesse, ela estava muito motivada com o assunto por ter presenciado este tipo de reação tóxica em uma pessoa próxima.
A artrite reumatoide é uma doença inflamatória crônica das articulações que faz com que o paciente tenha dores nas articulações inflamadas. Uma das alternativas terapêuticas para esta doença é o metotrexato, um fármaco que apresenta como efeito adverso a hepatotoxicidade em pacientes que excedem doses de 20mg/semana. Pacientes com artrite reumatoide fazendo uso desta medicação frequentemente a utilizam cronicamente, por longos períodos e doses elevadas, tornando-se mais suscetíveis a este efeito adverso.
Silybum marianum |
Então, no TCC da Elza, utilizamos como modelo animal ratos que receberam metotrexato em um regime simulando um tratamento crônico, para desenvolvimento de hepatotoxicidade. Como protetor, testamos a silimarina, que é isolada da planta cardo mariano (Silybum marianum). Este composto nos pareceu promissor devido às suas propriedades antioxidantes e antiinflamatórias, que fazem com que apresente bons resultados na proteção frente à toxicidade de compostos hepatotóxicos. E de fato, neste trabalho, a silimarina foi capaz de proteger parcialmente os danos provocados pela administração crônica do metotrexato, como a peroxidação lipídica hepática. No artigo publicado, apresentamos todos os resultados e discutimos um possível mecanismo envolvido nesta proteção parcial. Interessados em consultar a publicação, ela se encontra disponível aqui.
A silimarina já é um produto disponível comercialmente na forma de fitoterápico. Fitoterápicos são medicamentos obtidos com o emprego exclusivo de matérias ativas vegetais, com eficácia e segurança conhecidas, como qualquer medicamento. Não confundir jamais fitoterapia com homeopatia, que adota princípios bem diferentes para fundamentar seus tratamentos. Existe um material muito didático e interessante desenvolvido pelo Ministério da Saúde com esclarecimentos sobre os fitoterápicos, que se encontra disponível aqui.